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sexta-feira, 2 de julho de 2010

DA GESTAÇÃO EM MIM...

Hoje quero falar do amor-gestação que estende-se juntamente com o desenvolvimento de minha filha. Um amor no ventre. Que se fez corpo em nós, eu e Maria Elisa, para depois torna-se sentimento abstrato, difícil de ser explicado e entendido. Um amor que ainda busco entender e é distinto de tudo que já senti, mas que chega bem perto de um amor que já conheço há 39 anos, o amor da minha mãe por suas filhas.

Talvez, por isso, este post seja uma fala que só encontrará abrigo entre as mães. Mulheres-mães que compartilham de um conhecimento tácito, que não necessitaria de palavras, ainda que elas estejam aqui, mas que se sabe além do verbo: pelo olhar, uma respiração, um gesto...

Um amor-corpo que se sabe fazer no riso que escapa nos lábios, ao sentir o desconforto mais prazeroso: o movimento fetal no ventre. E que atende também por muitos nomes: felicidade, contentamento e até angústia e solidão. Justamente pela incapacidade de ser verbo para o outro, com a tamanha lucidez sentida na carne. Talvez por isso, diz-se que o amor de mãe é único. Afinal que lábios ousariam a proferi-lo, se não os da pessoa que o encarnou por 9 meses?

E hoje chorei pela ausência de escuta entre nós. Pela voz que se fez muda, ainda que houvesse som. Não por culpa do outro, mas pela incapacidade de se mudar uma situação que é inerente pela sua própria natureza. Como fazer um pai encarnar um amor-gestação da mesma forma que se vive no corpo- grávido? Entender as alegrias, medos, choros, deslumbramentos, consumos exagerados , ohhhs e ahhhs, como constituintes físicos e não apenas abstratos? Saber que os medos trazidos com a proximidade do parto, não são exageros? E o quê se quer, na verdade, é abrigo, abraço e a cumplicidade da carne, na mesma intensidade sentida na relação mãe e filha (o), mesmo que se tenha apenas um ventre pleno.

E o que dizer das “não-queixas”? A perda da forma física, das novas marcas que já fazem parte do que sou agora –muitos kilos a mais, estrias, manchas e celulite, sem que sejam entendidas como parte banal da vaidade feminina, e sim como um modo de pedir um elogio, ainda que da forma inversa. De chamar o masculino para a gestação, que também se cansa de ser tão feminina e necessita de um amante que chegue trazendo mais do que flores.

E se houvesse escuta e os elogios chegassem, mesmos assim não dariam conta da tamanha intensidade sentida na gestação encarnada. Pois é no CORPO que se gesta, de modo que, o verbo SEMPRE será uma tradução insuficiente de uma FISICALIDADE existente apenas em um ou pelo menos em dois corpos.

Entre as poucas-muitas falas ou falas mal interpretadas... Entende-se que a gestação é por si uma experiência solitária, partilhada por dois (na maior parte do tempo), e não por três. Um vínculo puramente carnal que se estabelece entre mãe e filha ou mãe e filho. E que por isso, caberá tantos desencontros no tempo. Quem saberá do que se passa, aqui, se não o ventre em mim?
Mas é chegado o "aparente" fim da gestação com a hora do parto. Outros tempos, outros modos de gestar e tantos outros desencontros existirão. Afinal é nesse período que reinicia-se a gestação para o pai, com a fisicalidade aparente do bebê. E, o dentro e fora finalmente não se separam, misturam-se entre o pai, mãe e o filho (a). Seria a chance da gestação ser sentida por três?

Escrevo aqui, não para culpabilizar o universo masculino, mas para entender o pai como um ser que é redimido, antes mesmo de proferir algo. E expressar o desejo de que os seres mais evoluídos possam ter gestações compartilhadas entre machos e fêmeas, meio a meio, para que ambos gestem na carne, verbos que são incompreensíveis fora dela. Para que então, esse amor-gestação que se estende em mim, não seja apenas um conhecimento tácito entre nós mães, mas que se sabe entre todo e qualquer ser vivente.

Talvez assim, você chegasse e me olhasse de modo diferente, sem que eu precisasse chorar por pouca coisa. Ou então ficaria do meu lado, como quem sabe muito bem o que sinto, assim como minha mãe, que toda a noite me olha e sem falar nada, me diz: sei bem o que é isso.
Quem sabe assim, os amores de pais e mães seriam muito mais próximos, ou padeceriam no mesmo paraíso?

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