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quarta-feira, 28 de julho de 2010

E SE A GENTE PUDESSE GUARDAR O TEMPO?


A sensação que fica é de como tudo passou tão rápido! Eu não sei se foi essa minha vida tão cigana que dispersou bastante a gestação. Mas se eu pudesse pararia o tempo agora para curtir mais minha barriga e as sensações que sinto na sua companhia, filha minha.
...

Nos primeiros 3 meses iniciais, ainda que muitas mudanças corporais aconteçam para que a gestação chegue até o final, como por exemplo a avalanche hormonal e todas as suas consequências (falta de disposição física ao amanhecer, instabilidade no humor, enjôo e exacerbação do olfato e paladar); parece que a encarnação da gravidez custa a chegar. Afinal são tantas sensações ambíguas, um reconhecimento interno de que, de fato, algo novo acontece e a sensação externa, de que não é bem assim.
A barriga não cresceu o suficiente ainda para se ter uma imagem interna construída e volta e meia, a gente se vê levantando super rápido da cadeira, esbarrando nos lugares, em uma agilidade que não cabe mais a esse corpo. Até que a própria gravidez lhe sirva de lembrete: um repuxo no pé da barriga - um nó que se forma e você se lembra que precisa saber dividir os seus comandos corporais com outro ser.

Lembro-me que até no quinto mês de gestação com uma barriga enorme também tinha uma dificuldade de dimensionar-me no espaço. O que às vezes me causava alguns micos. Como no dia que cheguei uns 10 minutos atrasada na aula do Doutorado e fui tentar sentar nessas cadeiras escolares comuns (que tem um braço) e não coube. Fiquei meio que entalada. E foi muito engraçado, porque ainda tentava que coubesse. Até que Helena falou: “Marcinha, não dá mais”. Ou alguma coisa parecida com essa frase...Rimos muito!!!

E assim a gente segue, meio que “é ou não é”???!!!! Em um fazer-se junto sagrado. Aprendendo com cada etapa, a conceder espaços, vontades e desejos. A dividir-se, como um verbo encarnado, mesmo que você ainda não tenha aprendido a conjugar. Para que mais que de repente, chegar no 8º mês...

Tempo, tempo, tempo... E se a gente pudesse te guardar?

Guardaria o dia em que conferi o resultado do BHCG pela internet. A emoção sem palavras de estar carregando um ser dentro de mim...
O dia em que soubemos que você era uma menininha, num ir e vir de imagens da minha infância em ti. Logo pensei em você vestida de bailarina. Dando os primeiros passos no balé...
O primeiro chute. O susto que levei, pela tamanha força!!! Vida em movimento rompendo a frieza de uma defesa de doutorado na PUC. Fazia um frio danado e o ambiente era tão formal, que tive que me conter para não abrir o berreiro ali. Meus olhos se encheram de água e ao mesmo tempo em tinha vontade de gargalhar.

...TANTOS OUTROS MOMENTOS JUNTAS, eu e você... minha companheira de Doutorado, de aeroporto, de refeições solitárias, noites de insônia e situações engraçadas. Como a vez que no avião, um passageiro sentou ao meu lado e eu comecei a enjoar o mal cheiro que ele tinha. Como disfarçar? Ao mesmo tempo em que era tão gentil e cuidadoso com a gravidez. Conversava com ele com a cara virada na direção oposta, para a janela. Pense que situação?????

PARA AGORA CHEGAR AQUI... como quem chega e quer frear o tempo. Guardar a barriga, a sensação de você mexendo cada vez mais e me lembrando: estou chegando!

Mas sei também que outros tempos virão. A hora do parto e de ter você nos meus braços. E como sempre fazemos, provavelmente, iremos pensar que este será um tempo melhor do que o passado, porque você estará presente em nós, corporificada de outro jeito. E será um tempo de divisão partilhada. O milagre de te dividir também fisicamente com seu pai, que terá acesso direto a você, sem precisar passar por mim. E assim aprenderemos juntos que o amor não é egoísta e que a relação umbilical, também passa por fios de afetos invisíveis, tecidos de outras maneiras, não apenas a visceral entre mãe e filha.

Te aguardamos minha filha, com outros tempos...

Venha em Paz, com muito amor e protegida como a menina dos olhos de Deus!

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