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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O DIREITO DE EXPRESSAR-SE!

Não sei se vou conseguir falar de uma das inquietações mais comuns para as gestantes, ou seja, a impossibilidade de expressar-se francamente. Pois é muito comum sermos santificadas pelo legado de gestar uma vida e por consequência, imputadas de uma áurea maternal que se traduz em resignação.
É como se não fosse possível para a mamãe falar de seus medos, anseios, fragilidades... Uma vez que o senso comum entende o legado da manternidade apenas por uma positividade, que digamos de passagem, muitas vezes é cruel. Pois basta dar a notícia de que estamos grávidas, que imediatamente associa-se esse estado a um pacotinho pronto, um dom, que por baixo já nos qualifica como fortes. E por conta disso, expressar qualquer sensação distinta, torna-se uma profanação.
O que tenho aprendido com esses 9 meses incompletos é que estar gestante é um fazer-se constante mãe. Não se nasce mãe, torna-se mãe. A partir de um encarnar-se muito peculiar, contextualizado nas suas vivências. No modo como você fez-se uma com sua mãe e tornou-se filha com potencialidades maternas. O que ajuda um pouco, descolar-se do padrão midiático da mãe universal, como um papel pré-dado e encarnado no momento em que os cromossomos definem o sexo feminino.
Aprendi também que essa encarnação da figura materna, pode sim, ser um corporificar ambíguo. Que abriga medo, dor, alegria e encantamento. Pois ao mesmo tempo que você se aproxima desse legado divino e se vê muito próxima da dimensão espiritual, também se entende mais humana do que nunca. Questiona-se da sua capacidade em dar conta de tal missão. Ambiguidade que se faz muito presente nos três primeiros meses e no final da gestação.
Entre a sua natureza divina e humana, muitas sensações chegam com múltiplos sentidos e qualidades. Sem que estas sejam excludentes, contudo complementares para o substrato do fazer-se mãe. A questão, que se impõe, não é a ambiguidade em si, uma vez que o ser humano é complexo, e sim, a impossibilidade de uma escuta sensível e do compartilhamento do que sentimos nessa fase da vida.
É incrível como vários diálogos tentam ser estabelecidos, mas a maioria deles acaba sendo emudecido com um tampão de que ser mãe é padecer no paraíso. Onde a fortaleça é a garantia de que tudo é suportável. Como assim? Quem disse que somos fortes 24h por dia? Não é à toa que muitas gestantes só encontram escuta com outras gestantes!!!!
Desculpem o desabafo, mas escrevo porque me cansa essa solidão e esse entendimento de que gestar basta em si mesmo. Quando na verdade, queria poder falar francamente dos meus medos e da minha insegurança. Sem que essa fala criasse qualquer estranhamento. Sem que me sentisse um "pintinho fora do ninho".
Sei que existem mães e mães. Minha mãe foi pura fortaleza, assim como minha sogra. Mas também quero me dar esse direito de às vezes não me sentir forte, e que minha fragilidade assumida não rasura o AMOR que tenho por minha família e filha.

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