Filhotita,
Que noite, hem? Mal dormimos. Se muito, 1h? Desculpa filha, sua mãe está tão sensível, de modo que, muitas das coisas que acontecem são amplificadas por essa sensibilidade. É que sua mãe com o término da gestação e a chegada do parto, FINALMENTE aprendeu que tem coisas que SÓ a gente pode fazer. Pois ainda que conheça a fidelidade de DEUS e tenha todo o AMOR de seu pai por perto e da família. Mesmo assim, filha, é muito delicado a sensação de sentir-se só.
Digamos que o PARTO é um segundo nascimento. E como qualquer nascimento, só você pode dar conta disso. Será nosso nascimento. O seu, que aprenderá a sobreviver e a lutar pela vida, nos primeiros momentos fora do ventre de mainha e eu, aprender com algo que desconheço e que não tenho total controle. Vivenciar algo que se inaugura para nós duas!!! E não existe conhecimento prévio.
POR ISSO CARREGO TANTAS PERGUNTAS..
Como será? De dia ou de noite? Será que terei contrações? A bolsa vai romper? Ou você apenas nascerá? Dará tempo de ligar para seu médico? De chegar na maternidade? Quem vai nos levar? Será, de fato, uma cesária? E seu pai estará conosco? Ou estaremos sós? Mais uma vez, eu e você? Sem contar, das outras inquietações pós o parto... a sua saúde, o seu bem-estar...E da preocupação com seu pai na estrada, caso ele esteja ainda em Paulo Afonso.
A sensação que nos invade é a de total impotência. Porque uma coisa é fato: não temos o controle de nada. Você e a natureza é que mandam! Eu só obedeço. E por mais que a gente tenha feito todo um acompanhamento médico direitinho e tudo esteja BEM, graças à Deus, mesmo assim, dá um medo danado!!! Nessas horas, parece que mamãe não fez curso maternidade, não leu nenhum livro sobre gestação, sites, etc. NADA!!!! Nem a aprendizagem como mestrado e doutorado ajudam.... Me sinto uma total ignorante. E SOU!!!!! Engraçado, isso, né?
E sabe o que vem junto a tudo isso... uma necessidade de compartilhamento. Que o outro esteja aqui. Principalmente o seu pai. Pois, a sua presença, parece que dá um outro sentido a essa solidão. Mas não falo apenas em presença física, e sim do cuidado, da sensibilidade, de vivenciar isso junto. E dizer que está com medo também. De ligar dizendo palavras de afeto, sei lá...
Acontece filha, que os homens, vão em outra direção. Se preocupam em prover a casa. Igualzinho ao tempo das cavernas!!!!! Se preocupam com o abrigo, com o fogo e com a caça. Com seu pai, não seria diferente. Afinal ele se preocupou com o nosso bem estar físico em São Paulo, nos deu todo o conforto necessário, também providenciou tudo para sua chegada: móveis do quarto, enxoval, coleta das células-tronco, etc. Digamos que seja uma outra forma de estar presente e demonstrar afeto.
Entenda, não estou fazendo críticas. Apenas uma leitura... Sabe por quê? Porque a hora do parto chegou e é um outro tempo. Para nós duas, o parto não é apenas o momento em que você sairá da barriga de mãe e ouviremos seu chorinho. Já estamos lá, hem? É AGORA! E já vivemos a melancolia da despedida - a saudade do ventre e a ansiedade por um OUTRO MUNDO que nos aguarda. Enquanto seu pai, ainda está fazendo as contas da gestação (Risos). Ontem mesmo me disse, após uma conversa tensa: "mas, você ainda está entrando no 9º mês".
O que dizer? Cada qual tem o seu tempo e sua espera. Por isso, hoje, escrevi a seguinte chamada no orkut: "para essa espera... tenho que perder as contas e ter a alma e o corpo, nús". Vamos tentar entendê-lo, né filha?
A questão é que nós fomos muito mal acostumadas. E são momemtos como este que caí a ficha literalmente. Vou explicar...
Nós mulheres vivemos grande parte da nossa vida em compartilhamento. Como assim? As nossas escolhas já nascem co-dependente do outro. Quando filhas, vinculam-se aos pais. Depois quando começamos a ter uma autonomia do corpo, afetivamente/sexualmente falando, nos ligamos ao namorado e posteriormente, ao maridão. E a nossa autonomia, vai sendo tecida assim, junto ao outro. O que de certa forma, dá uma sensação de pertencimento e divisão. SIM!!! O que é bem legal... Mas a prática é outra coisa. Xiiiiii...tem uma cilada, aí...
Pois, em momentos como este, a hora do parto, aprendemos que só nós, mulheres, podemos dar conta... NÃO EXISTE ESSE COMPARTILHAMENTO TODO. AFINAL QUEM VAI SENTIR A DOR POR VOCÊ, SE NÃO VOCÊ MESMA? E que a presença do marido, avôs, avós, tias... amigos e amigas... não vão de fato, fazer o trabalho de parto por você. Ainda que a presença, ajude e muitooo.
(Aqui abro um parentêses para falar da saudade de seu avô Alfredinho e a falta da sua presença como pai em minha vida. Talvez com ele ao meu lado, o sentir-se filha ajudasse a atenuar a fragilidade. Entendo que muito da minha angústia vem da constatação de que ele não está aqui e que não tenho meu pai para me proteger.)
Por isso, acredito que a experiência do parto nos faz seres de outro planeta. SÓS nos tornamos mais fortes e quase sobrenaturais. Porque aprendemos que é do nosso substrato corpóreo que vem a força... das nossas células mesmo. Células, entenddidas como um CHAMADO DIVINO DA VIDA.
Sendo assim, filha, VAMOS AGRADECER por termos nascido Mulher!!!!! Viu?
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